Sábado 29 Mar 2008, 18:17

Abriram as cortinas e lá estava ele deitado sobre um divã vestindo uma malha justa e espelhada, feito um globo de discoteca, e penas, muitas penas. Um índio prateado, esguio e lânguido, uma diva que brilhava refletindo a luz dos holofotes.
Todos que assistem Ney Matogrosso esperam pela sua entrada triunfal, algo chocante, seus figurinos chamativos e sua performance ultra-sensual. Não foi diferente neste show. E o público estava encantado diante deste camaleão capaz de hipnotizar toda uma platéia, mesmo os maridos mais conservadores das senhoras que gritavam e o aplaudiam incansavelmente.
Nesta altura da carreira de um artista como Ney Matogrosso não é possível a existência de um repertório ruim ou músicos de baixa qualidade. A banda era simplesmente impecável, músicos muito competentes capazes de executar os bem trabalhados arranjos feitos para as músicas de Chico Buarque, Caetano Veloso, Arnaldo Antunes, Marcelo Camelo, Pedro Luís (do Pedro Luís e A Parede), Jorge Drexler e o onipresente Cazuza.
Quem olhar o meu perfil musical pode até achar curioso eu ter assistido o show do Ney Matogrosso. Além do fato irrelevante de eu ter ido acompanhando minha mãe ("fanzoca do Ney"), a verdade é que o admiro profundamente como artista. Ele é um intérprete sempre, mesmo quando grava músicas inéditas. Porém sua interpretação, sua vivência da música nunca é um cover. Chico, Cazuza ou Cartola na voz e no corpo de Ney Matogrosso é algo único. Se na sua vida pessoal impera a discrição, no palco ele é quem quiser, um ou vários personagens.
Nunca tinha assistido uma apresentação dele e quem não viu não imagina o que está perdendo. Vale a pena experimentar não só ouvir música, mas ver música.